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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A lata dos enfermeiros

 
"Li, algures numa rede social, um artigo datado de 2010 em que um ignorante (no sentido de pessoa ou anormal que fala sobre um assunto que nada percebe) teve a lata de dizer que os enfermeiros tinham lata em exigir melhores condições e apenas iam fazer greve (na semana a seguir à Páscoa, creio) só para irem de férias. Talvez para o caribe, digo eu.
A visão da sociedade sobre os enfermeiros é a de serem uns meros vassalos dos médicos, de serem uns limpa cús e, em último caso, são os gajos que dão picas. A atendendo a isto, ganhámos bem demais para o que fazemos, devíamos era ganhar menos ou, quem sabe, trabalhar inclusive de graça. É uma visão global e não apenas de um ignorante.
Pois bem, não me vou pôr aqui a dizer quais as nossas funções, pois entendo que todos os que pensam assim não têm um QI suficiente para compreendê-lo. Mas há algumas coisas que gostava de esclarecer.
Greves…somos das profissões (não a única) mais altruístas a fazer greve! Não é que nos dias de greve comparecemos ao trabalho para desempenhar algo que se chama “cuidados mínimos”! Deixo uma questão para os iluminados…digam-me o “porquê” destes cuidados e da sua obrigatoriedade?
Quanto à propagada disputa com os médicos e à nossa vassalagem, deixem-me que esclareça o significado profissões interdependentes. Dependem umas das outras. Não em tudo como é óbvio. Cada uma autónoma na maioria das suas funções. Os médicos dependem da informação que nós damos (vejam lá meus iluminados, eles até acreditam em nós) para decidir, avaliar ou alterar tratamentos aos doentes, por exemplo. Diz-se que dependemos deles para dar medicação. Isso é das tais falácias que de tantas vezes repetidas se tornam verdade. Também eu podia dizer que os médicos dependem de nós para que a medicação que prescrevem seja administrada. Ou seja, é a velha questão de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. Simplesmente eles prescrevem, nós administramos (temos poder de negar quando achamos que está mal prescrito). Esclarecidos? Não criem guerras onde elas não existem, somos colegas numa equipa multidisciplinar.
Dizem que os colegas dos Centros de Saúde não fazem nada. Eu digo que se as pessoas fossem um pouco inteligentes e seguissem as orientações de médicos e enfermeiros de família, muitos dos problemas que obrigam a internamentos ou a medicação crónica seriam evitados. Chama-se a isso prevenção, meus caros. E os cuidados primários é para isso que estão, não para operações nem internamentos.
Se falo de tudo o que vemos, de tudo o que passamos, dos turnos que alteram a nossa vida, das noites mal dormidas…dizem que já sabíamos ao que íamos. Deixem que vos diga que nenhum enfermeiro tem perfeita noção para o que vai. A maior parte, nenhuma mesmo. Vemos a fragilidade humana no esplendor e nem sempre se consegue reverter isso. Quantos doentes já me passaram pelas mãos e me fizeram lembrar entes queridos que já cá não estão? “Têm que ser frios” dizem, como se para isso apenas bastasse carregar num botão ou como se fosse coisa que se aprenda num curso.
Li um artigo intitulado “Os enfermeiros também choram” e percebo perfeitamente o significado do texto…mas eu digo que os enfermeiros não choram.
Nós não choramos, nós escondemos. Escondemos a nossa dor ou sofrimento para que aqueles que mais precisam de nós se sintam protegidos. Nós sorrimos perante a doença, perante a morte, perante a falta de esperança, para que eles não a percam. Porque sem esperança não há cura. Sabemos ser duros, sendo amáveis. Sabemos ser próximos, sendo distantes.
Nós não choramos, simplesmente temos momentos a sós, no trabalho ou em casa, em que lavamos a alma, em que renovamos a nossa vontade de ajudar o próximo! E no dia a seguir voltamos ao nosso campo de batalha para provar que os anjos-da-guarda não choram...Voltamos na esperança de que esgares de dor virem sorrisos, que a doença vire saúde, que o desespero vire esperança, que o desumano vire humano, que a indignidade vire dignidade.
Sem dúvida que nós, enfermeiros, temos uma lata descomunal…em fazer o que fazemos por valores tão ridículos!"

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