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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

E vamos indo..


CIPE... (mais vale ser mudo!)

Chegou às Direcções de Enfermagem das Instituições de Saúde, uma nota, proveniente da Ordem dos Enfermeiros, para averiguações acerca da aplicação da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE).
Esta "invenção" (CIPE), que pretende ser um instrumento uniformizador da linguagem dos Enfermeiros, é um descalabro. Pôs os Enfermeiros a falar francês, quando todo o mundo fala inglês! Até trocou as voltas ao dicionário!

O ímpeto em separar radicalmente a Enfermagem da Medicina e do resto do mundo da saúde, dá nestas preciosidades que ninguém entende e que castra a nossa profissão. Juntando a todo este bradar aos céus, temos os Enfermeiros formadores da CIPE fanáticos.

A conceptualização na CIPE é tão densa e baralhada que surgem verdadeiras pérolas. Basta ir à CIPE para observar estes rasgos de genialidade:

O que é o nascimento?
- "é um tipo de gravidez (...)".

O que é um aborto?
- "é um tipo de gravidez (...)"
Esta foi ao lado.

O que é uma ferida?
- "é um tipo de tecido (...)".
Depois de ler esta fiquei com uma ferida na alma (é um tipo de tecido?).

O que é a asfixia?
- "é um tipo de limpeza das vias aéreas (...)".
Será um mecanismo corporal?

O que é uma hemorragia?
- "(...) é uma perda de grande quantidade de sangue num curto espaço de tempo (...)"
E se for uma perda de pequena quantidade de sangue num largo espaço de tempo? Já não é uma hemorragia?

O que é uma sesta?
- "(..) passar pelas brasas (...)"
Sim, é verdade, esta preciosidade científica está lá bem descrita.

O que é uma fecaloma?
- "é uma tipo de obstipação (...)"
Para a comunidade científica é uma massa constituída por um bolo fecal endurecido, de difícil eliminação intestinal.

O que é uma glândula mamária?
- "é um tipo de glândula com características esféricas: duas grandes glândulas discóides hemisféricas (...)"
E se um indivíduo só tiver uma? Já não tem cabimento neste conceito...

O que é a candidíase?
- "é um tipo de mucosa (...)"
Há muitos deficientes por aí. Falta-lhes uma mucosa.
Seria preciso uniformizar este conceito (entre tantos outros...)? Uma candidíase não será a mesma coisa para os Enfermeiros portugueses, chineses ou egípcios?

Estes são pequenos exemplos, a CIPE brinda-nos com imensos. Alguns tão maus, que é vergonhoso colocá-los aqui.
Mas a CIPE também rivaliza com outras linguagens. Por lá também podemos ler o significado dos conceitos "edifício comercial", "prisão", "ponte" (pontes ou prisões não serão a mesma coisa em qualquer parte do planeta? Andamos a despender esforços para uniformizar o que já está uniformizado?), "caminho de ferro", "impostos", "furacão" etc.
"Impostos", por exemplo, é definido como... "tipo de prosperidade". Até o dicionário fica confuso!


Para quem desconhece fiquem sabendo, por exemplo, que "deplecção", ou "desejo" são "fenómenos de Enfermagem". Nossos, só nossos e de mais ninguém. Quem usar estes conceitos terá de pagar direitos de autor.

E os diagnósticos de Enfermagem? É mais complexo entrosar os conceitos-base (foco, julgamento, características definidoras, etc), do que fazer o próprio diagnóstico! Obsessão pela complicação?

Por outro lado, os diagnósticos são básicos e dignos de leigos. Se nos depararmos com alguém que descreve "dores abdominais intensas", o diagnóstico imediatamente levantado é "dor presente em grau elevado"... "Mas porquê que tenho dores?" - pergunta o utente. (Onde está o valor acrescentado do Enfermeiro? Será que a Enfermagem não deve evoluir de complexidade? Em pleno séc. XXI o paradigma não deve mudar? Reparem que qualquer dona de casa sabe fazer colocar em prática as nossas intervenções independentes - colocar gelo, calor, promover autocuidado, massagem, etc e até pode administrar fármacos (NSRM)...)
Já alguém pensou que, se fosse apenas pelas nossas intervenções independentes, os Enfermeiros eram dispensáveis e ninguém os contratava?

Porque havemos de colocar os Enfermeiros a falar numa linguagem diferente de toda a comunidade científica? Psicólogos, Sociólogos, Biólogos, Médicos, etc, todos falam a mesma linguagem... porque não falam os Enfermeiros também? Há conceitos inerentes apenas à Enfermagem? Óptimo, também as outras disciplinas do saber os têm.

Com esta ânsia canibalesca em separar a Enfermagem das ciências médicas ( não serão a administração de fármacos, suporte avançado de vida, etc, procedimentos demasiado "médicos?" É melhor desistirmos deles... só assim nos podemos separar em pleno do bio-médico e assumimos toda a nossa força no reino do bio-desinteressante!), a curto prazo deixar-se-á de leccionar saúde no curso de Enfermagem. Proponho que o curso passe para as faculdades de letras.
Continuem com a CIPE's e companhia, mas notem bem que:
... não faltam técnicos ansiosos por "deitar a mão" nas áreas que vamos deixando a descoberto.
Depois admiramo-nos que os Enfermeiros já não prescrevam dietas porque existem os nutricionistas/dientistas, já não façam intervenções do âmbito psicológico por existem os psicólogos, que a Enfermagem podológica tenha falecido porque já existem podólogos, que a Enfermagem geriátrica esteja a morrer porque já existem os gerontólogos, que a intervenção da Enfermagem nos meios de diagnóstico e terapêutica seja quase nula, porque os técnicos de diagnóstico e terapêutica disseminaram-se, que a reabilitação esteja a ser assumida na totalidade por fisioterapeutas...

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Pergunto o mesmo: não há ninguém que ponha mão nisto?

Enviada: sexta-feira, 06 de Fevereiro de 2009, 14:24:11
Para:
doutorenfermeiro@hotmail.com
De:xxxxxx xxxxxxx (xxxxxxxxxxxxxxx@hotmail.com)
.
"Caro Doutor Enfermeiro, (...) motivado por um post seu (já um pouco antigo) venho por este meio denunciar uma situação. A minha escola não quer saber se há locais de estágio ou não(...). Neste momento estou a fazer o estágio de medicina num lar, onde vai uma enfermeira apenas 3 horas por dia, (...) estamos ao abandono. Ou era isto ou um centro de dia! NÃO HÁ NINGUÉM QUE PONHA MÃO NISTO? (...).
Obrigado pela sua atenção."
.
Debato-me há imenso tempo com o mesmo problema. Parece que é mais preocupante discutir a abertura, ou não, de mais 30 vagas para medicina, do que saber se existem, ou não, campos de estágio de qualidade (fulcral!!) para formar Enfermeiros, com rigor e elevados padrões de exigência, consonantes com a responsabilidade inerente à profissão.

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"C'um caraças, é uma selva"!

Conversa, ontem, ao telefone, com um colega nosso (profissional brilhante, permitam-me acrescentar...) que há já algum tempo deixou a "prática clínica", para se dedicar exclusivamente a funções de Enfermagem, no âmbito da investigação, numa empresa/instituição conhecida em Portugal.
O tema versava - tristemente - acerca do excesso de Enfermeiros que existe, num momento em que a conjuntura é deveras difícil.

A seguir vem a história: a referida instituição abriu vagas para admissão de colaboradores. Os lugares a preencher - bastante exigentes em termos profissionais - apresentavam várias condições e critérios, a primeira de uma vasta lista, ser licenciado em Enfermagem ou Medicina.

- "Médicos, acho que ainda não apareceu ninguém" - disse.

Eu sei que às vezes faço perguntas para as quais já sei a resposta, mas simplesmente não gosto de a ouvir.

- "E Enfermeiros, apareceram muitos?"

- "C'um caraças, nem imaginas. Entupiu o mail em três dias, mas ninguém parece que cumpre os requisitos necessários" - exclamou... e continuou "as instituições até já estão na retranca, até têm medo de pronunciar a palavra Enfermagem porque os telefones, mails e correio entopem. Os Enfermeiros não querem saber se cumprem requisitos ou não, é uma autêntica selva..."

Desespero, eu sei. Mas concorrer de forma massiva e cega não está a ajudar os Enfermeiros em termos institucionais.


in: DE

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