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sábado, 24 de novembro de 2007

A enfermagem faleceu….


Caro colega Doutorenfermeiro,
(…)De uma forma muito breve, eis a questão. Trabalhei 3 meses num hospital EPE. O meu contrato terminou, fiquei no desemprego. Há 2 meses fui trabalhar 40 horas/semana para uma clínica privada. No primeiro mês recebi ilíquidos 629 euros, no segundo 583. Questionei o chefe, e é simples, “a direcção recebe tantos currículos de enfermeiros, que eles baixaram o salário. Só fica quem quer”. Fiquei sem resposta. Trabalho noites, sábados, domingos, feriados e não me pagam mais nada.

A clínica têm enfermeiros mais velhos que trabalham a recibo-verde que são/eram muito bem pagos, ainda são do tempo do “chão que dava uvas”, dizem eles. Lentamente vão sendo “convidados” a sair, infelizmente nem a experiência dos enfermeiros é uma razão para contratar alguém. É caro, saí. É uma anarquia.

Este avalanche de enfermeiros (porque supostamente havia falta) só trouxe miséria e maus-tratos. A competição (muitas vezes sem escrúpulos) baixou os salários de um momento para o outro, com uma rapidez incrível. Ouvimos tudo o que abusivamente nos dizem, e temos de ficar calados, pois precisamos do emprego, e basta dar um “ai”, e está logo outro a preencher a nossa vaga, porque metade do salário. Não me sinto bem trabalhar com auxiliares que ganham mais do que eu. Sinto-me mal. Cada vez que ouço dizer que os nossos rácios são baixos, gostaria de ver essa pessoa viver com pouco mais do que o salário mínimo. E a vida profissional? Por motivos económico não posso comprar livros ou mesmo ter formações. Recorro frequentemente à ajuda dos meus pais. Sou enxovalhado por médicos que falam à vontade, ninguém lhes diz nada, há falta de médicos e os empregadores têm de os respeitar, senão… vão embora para outro lado. Custa-me tb fazer de médico (muitas vezes eles estão ausentes) e depois recebo 1/ 16 do que eles recebem à hora, às vezes sem presença física.

Estudei arduamente 4 anos para nada. Disseram que estava mal, mas pensei que o “mal” era um exagero, pensei que diziam isso porque o país estava em crise. Mas, realmente, agora compreendo. Quando venho ao seu blog (sou leitor assíduo), só vejo desgraça por este país fora (o colega ainda tenta animar, mas…. é difícil)!

Desculpe o desabafo, mas às vezes o desespero e a desmotivação impede de continuar a exercer. Sabe, ganho mais como caixa de um hipermercado, sem responsabilidades, sem riscos, sem preocupações. Infelizmente, no início do próximo ano, vou fazer as provas para ir para a América, e o que mais me custa é deixar a namorada, os amigos, a minha casa, tudo porque os professores e a Ordem querem manter os tachos e continuam a apregoar falta de enfermeiros!

Desculpe avisá-lo, mas a enfermagem faleceu ontem às 2:26 AM, vítima de insuficiência respiratória, sozinha, ignorada. Vai ser sepultada em vala comum, sem cerimónias, lamento.
É pena… depositava tantas esperanças..."

in: http://funhanha.blogspot.com/

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