Já se suspeitava e as estatísticas do emprego ontem reveladas pelo INE confirmam-no: Portugal transformou-se num país onde vive mais de um milhão de deserdados de um dos bens mais fundamentais de qualquer sociedade estável e civilizada, o direito ao trabalho.
Haver cada vez mais pessoas sem trabalho é um grave problema económico, mas é também um terrível imposto ético que toda a sociedade está condenada a pagar caro. Para poder vencer a dureza da crise, o país vai ter de ser capaz de saber lidar com a frustração, ou o desespero, de uma franja muito significativa da sua população.
Além da incerteza sobre o ciclo político, as ameaças externas ou a interminável recessão interna, vai ser preciso gerir o ressentimento natural de pessoas a quem,
O drama do desemprego coloca a sociedade perante um dos seus mais difíceis desafios de sempre num ápice, foram cerceadas aspirações e travadas expectativas quanto ao futuro.
Face às limitações financeiras do Estado, aos compromissos assumidos com a troika ou por causa até de alguns dos princípios basilares do pensamento político do Governo, não se espere mais apoio e protecção aos que perderam, ou estão em vias de perder o seu emprego. As teses peregrinas dos que acreditavam que tudo se compunha com a recuperação que deveria ter chegado no final de 2012, ou os que anunciavam o admirável mundo novo do empreendedorismo ou da reindustrialização afundaram-se na severidade da recessão.
Os que não têm trabalho, sejam jovens licenciados ou desempregados de longa duração, vão continuar a ser as principais vítimas da crise. Viver com menos é sempre mais fácil do que viver sem nada, incluindo perspectivas de futuro. Com um Estado falido, um governo prisioneiro do programa de ajustamento e uma economia cercada pela austeridade, as perspectivas para os desempregados são negras. Só a capacidade de resistir e o apelo à solidariedade podem fazer alguma diferença.
editorial JP 18.02.13
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