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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Alguns encerramentos são insensatos

Alguns encerramentos são insensatos:

JP - Como membro da anterior comissão que reorganizou a rede de urgências o que pensa deste relatório de reavaliação?
Luís Campos - Em primeiro lugar a ideia de avaliar a reforma das urgências, como aliás qualquer reforma implementada, é fundamental. A nossa comissão já tinha, de resto, proposto um grupo de trabalho que monitorizasse a reforma de 2008 e fosse fazendo os ajustamentos necessários. Esta comissão avalia o grau de implementação da rede de 2008, mas falta-nos conhecer o real impacte ao nível da qualidade dos cuidados prestados aos doentes urgentes. Não sabemos, [por exemplo], se permitiu poupar vidas dos doentes politraumatizados. Por outro lado a proposta desta comissão é muito mais lata do que a definida em 2008, na medida em que inclui propostas sobre rede de referenciação, sistema de helicópteros, informatização dos serviços de urgência, indicadores de qualidade, entre outros.

JP - Concorda com as propostas?
Luís Campos - O grande critério estabelecido pela anterior comissão — haver um ponto de rede de urgência a menos de 30 minutos para, pelo menos, 90% da população — é cumprido pela proposta desta comissão, na medida em que isso é conseguido para 94,9% da população. Agora, nós entramos em linha de conta com outros critérios que não estão incluídos nesta proposta, como seja sinistralidade, risco industrial, variação sazonal e outros. Em relação à proposta concreta de encerramentos ou despromoção de nível de urgência, há situações que correspondem apenas à implementação do despacho de 2008. É o caso de algumas situações que permaneciam apenas até à integração em centros hospitalares ou melhoria das acessibilidades. Como exemplos temos Chaves, Mirandela, Fafe, Santo Tirso, Montijo e Peniche. As questões mais complicadas estão relacionadas com os SUB. A diminuição proposta de 45 para 34 é muito expressiva. Há casos em que, como disse, se trata apenas de implementar a proposta anterior. Existem outros em que a proposta é discutível mas aceitável. No entanto há situações em que me parece insensato o encerramento proposto, como são os casos de Lagos e Loulé, que são urgências caracterizadas por um movimento significativo, acima das 100 admissões por dia, com grande variação sazonal e em que o encerramento iria provocar uma sobrecarga intolerável paras urgências mais próximas. Fechar Lagos, por exemplo, signifi ca que poríamos a população de Sagres a 50 quilómetros de Portimão. O mesmo acontece em relação a Tomar, que é um núcleo populacional muito expressivo. Outro exemplo é o de Agualva- Cacém (que no relatório aparece como não SUB, mas que está a atender casos urgentes), porque serve a população de Sintra superior a 400 mil pessoas e serve de tampão ao Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) cuja urgência que funciona nos limites. Outro caso de diferente natureza é o de Idanha-a-Nova, que propusemos em 2008 e não está a funcionar. Se pensarmos na vastidão daquela região inóspita, é fácil perceber que aquela população beneficiaria muito com um SUB na Idanha ou mesmo em Penamacor.

JP - Portugal tem demasiados pontos de urgência, quando comparado com outros países?
Luís Campos - Eu acho que não tem demasiados pontos de urgência, se comparamos o número de urgências médico-cirurgicas ou polivalentes. Temos um número comparável ou mesmo inferior a outros países europeus. No entanto é preciso ver que temos um nível, o Serviço de Urgência Básica, que não existe em muitos outros países. Definir uma rede de urgências tem que ser em função das características do país. É preciso ver que em 2005 havia 73 serviços de urgência médicocirúrgicos ou polivalentes, dos quais 55% em hospitais com menos de 200 camas, o mínimo para que um hospital funcione para doentes agudos, e nós propusemos a redução para 44. Já é uma concentração muito substancial que nos parece trazer mais qualidade à rede urgências.

JP - E o que pensa da passagem de algumas urgências polivalentes para médico-cirúrgicas?
Luís Campos - Em relação à região do Porto, acho perfeitamente admissível que haja apenas duas urgências polivalentes, atendendo à população. Quanto aos Covões, isso decorre da criação do Centro Hospitalar de Coimbra.

JP - Mas a urgência dos Covões até foi fechada durante o período nocturno, o que penso ser inédito...
Luís Campos - Sim, não há urgências que fechem à noite. Se fecham à noite não são urgências. Essa é a definição que está consignada na lei portuguesa.

JP - O que preconiza para a região de Lisboa? Concorda com as sugestões deste grupo?
Luís Campos - Lisboa provavelmente não precisa de quatro SUP durante a noite. Bastaria um ou dois à noite, período em que passariam a funcionar como urgências médicocirúrgicas. Relativamente ao Garcia de Orta (Almada) e Évora, são hospitais que de facto não se equiparam e não evoluíram para SUP. Mas estas são situações que devem ser vistas ao nível das Administrações Regionais de Saúde e da decisão política. Se a decisão for de manter, o facto de não ter capacidade de responder num determinado nível, quer apenas dizer que tem que se investir nesses hospitais. Por outro lado, a rede de urgências está ligada à definição da rede hospitalar e essa coerência tem que ser decidida de forma integrada.

JP - A verdade é que, depois da vossa proposta, houve hospitais que investiram na remodelação e reequipamento dos seus serviços de urgência e que agora se vêem confrontados com a hipótese de fecho, como é o caso de Santo Tirso.
Luís Campos - Acho que as ARS deviam impedir investimentos que não se enquadram nas redes definidas. São investimentos que visam impor situações de facto mas que representam sinais de desperdício, intoleráveis nestes tempos.

entrevista de Alexandra Campos, JP 19.07.12

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