Turbo-anestesista na PPP de Braga:
Assunto: Doentes anestesiados em simultâneo pelo mesmo médico no Hospital de Braga
Exma. Senhora Presidente da Assembleia da República
No dia 14 de Novembro de 2011, um médico anestesista do hospital de Braga, gerido em regime de Parceria Público-Privada (PPP) pelo grupo Mello, anestesiou, simultaneamente, vários doentes operados em diferentes salas do bloco operatório do Hospital de Braga, o que constitui uma má prática susceptível de colocar em risco a vida dos doentes. Esta situação, que é contrária às orientações internacionais e também da própria Ordem dos Médicos sobre esta matéria, repetiu-se por diversas vezes ao longo desse dia. Acresce salientar que é física e tecnicamente impossível monitorizar o que se passa em todas as salas ao mesmo tempo.
O anestesista em questão foi escolhido pelo grupo Mello para o cargo de director clínico do novo Hospital de Braga. O referido médico ficou conhecido por, em 2009, ter abandonado o serviço de urgência do hospital para participar numa inauguração de um campo de golfe, ausentando-se durante oito horas, sem se fazer substituir, apesar dos registos hospitalares assinalarem a sua entrada às 8h37 e a saída às 9h48 do dia seguinte.
Em declarações ao jornal que denunciou a anestesia simultânea de vários doentes pelo mesmo clínico, tipo turbo-anestesista, o médico refuta a acusação. No entanto, as explicações avançadas não são convincentes, nem esclarecedoras, uma vez que colidem com a informação contida nos próprios registos individuais das cirurgias realizadas nesse dia, a que o Bloco de Esquerda teve acesso.
Os registos das cirurgias mostram que o médico foi o anestesista responsável, em horas coincidentes, em 2 ou 3 salas simultaneamente.
No período da manhã, até às 14h, houve sete doentes operados, nesta situação. Por exemplo, o médico anestesiou em duas salas diferentes – uma era de Ortopedia (sala 10) e a outra de Urologia (sala 4) – onde decorriam procedimentos cirúrgicos que não podem ser feitos com a tal anestesia tópica/local, mencionada nas declarações feitas hoje pelo médico à imprensa.
No período da tarde, outro exemplo desta prática irregular, em que uma das suites operatórias era Oftalmologia. Mesmo quando na presença de técnicas cirúrgicas "mais simples" a presença do médico de anestesia é fundamental, conforme prática corrente e obrigatória no Serviço nacional de Saúde (SNS) e internacionalmente. Cita-se a este propósito o Parecer da Direcção do Colégio de Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos: “A presença de um especialista em anestesiologia, ainda que a cirurgia decorra sob anestesia tópica, é sempre imprescindível. Eventuais complicações durante a cirurgia, que sempre poderão surgir mesmo a cirurgiões experientes e até o grupo etário em que habitualmente a cirurgia da catarata é realizada são motivos bastantes, mas não únicos, para que o anestesiologista esteja efectivamente presente”.
Ainda no período da tarde, uma doente sujeita a procedimento cirúrgico diferenciado ginecológico das 14h10 às 17h16, “partilhou” o anestesista em questão com outra sala de Urologia, onde decorria um procedimento igualmente diferenciado, das 15h25 às 15h55, e ainda com três outros doentes da sala de Oftalmologia (das 15h às 16h21, das 16h34 às 16h55 e das 17h06 às 17h24). Ou seja no mesmo horário foram anestesiados 5 doentes em três salas distintas.
Atendendo ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao Governo, através do Ministério da Saúde, as seguintes perguntas:
1.Já decretou o Ministério da Saúde a abertura de algum inquérito para apurar os factos e os motivos por que ocorreu a situação acima descrita?
2.O gestor do contrato relatou o ocorrido ao Ministério da Saúde?
3.Considera o Ministério da Saúde compatível a acumulação de funções de director clínico do Hospital de Braga com o exercício de actividade clínica no mesmo hospital?
4.O número de anestesistas no Hospital de Braga é suficiente para assegurar o normal funcionamento no bloco operatório, de acordo com as boas práticas e normas vigentes?
Palácio de São Bento, 21 de Novembro de 2011.
O Deputado, João Semedo
Exma. Senhora Presidente da Assembleia da República
No dia 14 de Novembro de 2011, um médico anestesista do hospital de Braga, gerido em regime de Parceria Público-Privada (PPP) pelo grupo Mello, anestesiou, simultaneamente, vários doentes operados em diferentes salas do bloco operatório do Hospital de Braga, o que constitui uma má prática susceptível de colocar em risco a vida dos doentes. Esta situação, que é contrária às orientações internacionais e também da própria Ordem dos Médicos sobre esta matéria, repetiu-se por diversas vezes ao longo desse dia. Acresce salientar que é física e tecnicamente impossível monitorizar o que se passa em todas as salas ao mesmo tempo.
O anestesista em questão foi escolhido pelo grupo Mello para o cargo de director clínico do novo Hospital de Braga. O referido médico ficou conhecido por, em 2009, ter abandonado o serviço de urgência do hospital para participar numa inauguração de um campo de golfe, ausentando-se durante oito horas, sem se fazer substituir, apesar dos registos hospitalares assinalarem a sua entrada às 8h37 e a saída às 9h48 do dia seguinte.
Em declarações ao jornal que denunciou a anestesia simultânea de vários doentes pelo mesmo clínico, tipo turbo-anestesista, o médico refuta a acusação. No entanto, as explicações avançadas não são convincentes, nem esclarecedoras, uma vez que colidem com a informação contida nos próprios registos individuais das cirurgias realizadas nesse dia, a que o Bloco de Esquerda teve acesso.
Os registos das cirurgias mostram que o médico foi o anestesista responsável, em horas coincidentes, em 2 ou 3 salas simultaneamente.
No período da manhã, até às 14h, houve sete doentes operados, nesta situação. Por exemplo, o médico anestesiou em duas salas diferentes – uma era de Ortopedia (sala 10) e a outra de Urologia (sala 4) – onde decorriam procedimentos cirúrgicos que não podem ser feitos com a tal anestesia tópica/local, mencionada nas declarações feitas hoje pelo médico à imprensa.
No período da tarde, outro exemplo desta prática irregular, em que uma das suites operatórias era Oftalmologia. Mesmo quando na presença de técnicas cirúrgicas "mais simples" a presença do médico de anestesia é fundamental, conforme prática corrente e obrigatória no Serviço nacional de Saúde (SNS) e internacionalmente. Cita-se a este propósito o Parecer da Direcção do Colégio de Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos: “A presença de um especialista em anestesiologia, ainda que a cirurgia decorra sob anestesia tópica, é sempre imprescindível. Eventuais complicações durante a cirurgia, que sempre poderão surgir mesmo a cirurgiões experientes e até o grupo etário em que habitualmente a cirurgia da catarata é realizada são motivos bastantes, mas não únicos, para que o anestesiologista esteja efectivamente presente”.
Ainda no período da tarde, uma doente sujeita a procedimento cirúrgico diferenciado ginecológico das 14h10 às 17h16, “partilhou” o anestesista em questão com outra sala de Urologia, onde decorria um procedimento igualmente diferenciado, das 15h25 às 15h55, e ainda com três outros doentes da sala de Oftalmologia (das 15h às 16h21, das 16h34 às 16h55 e das 17h06 às 17h24). Ou seja no mesmo horário foram anestesiados 5 doentes em três salas distintas.
Atendendo ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao Governo, através do Ministério da Saúde, as seguintes perguntas:
1.Já decretou o Ministério da Saúde a abertura de algum inquérito para apurar os factos e os motivos por que ocorreu a situação acima descrita?
2.O gestor do contrato relatou o ocorrido ao Ministério da Saúde?
3.Considera o Ministério da Saúde compatível a acumulação de funções de director clínico do Hospital de Braga com o exercício de actividade clínica no mesmo hospital?
4.O número de anestesistas no Hospital de Braga é suficiente para assegurar o normal funcionamento no bloco operatório, de acordo com as boas práticas e normas vigentes?
Palácio de São Bento, 21 de Novembro de 2011.
O Deputado, João Semedo
As PPPs não param de nos surpreender. E a PPP da inginheira ainda não começou!
Esperem para ver.
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