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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Estranho Caso das Esposas Irritantes.

O Estranho Caso das Esposas Irritantes.: "

A cena repete-se no tempo mudando apenas os intervenientes. Um homem, normalmente em pleno gozo da sua reforma, apresenta-se na nossa triagem:
-Então bom dia! Explique lá o motivo que o traz à urgência.
(a mulher responde) -Olhe Sr. Enfermeiro, ele tem-se sentido muito mal nestes últimos dias, tonto e mal-disposto e não come bem e também não dorme.
-Peço desculpa pela minha pergunta, mas o senhor não fala? Tem algum problema que não lhe permite ser ele mesmo a descrever as suas queixas?
(nesta altura o homem responde com um tímido 'Não' mas é logo abafado pela esposa)
-Sabe sr. enfermeiro, ele não sabe queixar-se, não sabe o que tem.
-Mas a senhora sabe? Afinal quem é que está doente? Parece-me que é ele...
-Pois é mas ele não sabe!
Esta última frase é dita no tom inconfundível de 'quem manda lá em casa sou eu e por isso eu é que sei o que ele tem' e o marido já olha para a mulher com aquele não menos inconfundível olhar de 'chiça mulher, cala-te lá de uma vez por todas! Rais' parta o dia em que me casei contigo, iiiiirra!'. E, acto contínuo peço à senhora que aguarde na sala de espera enquanto eu falo com o doente sem ter uma terceira pessoa a traduzir. O que acontece a seguir é ainda mais hilariante (ou irritante, depende do dia em que me encontro!): a mulher prostra-se atrás da porta a ouvir a conversa e interrompe sempre que julga necessário, alvitrando as mais sapientes sentenças 'ele a mim não me disse isso, olhe que ele sofre do coração, tem a diabetes alta' entre outras coisas! No final de tudo interroga o já farto dela -marido 'disseste que te doía o braço, falaste da próstata, viram-te a tensão, falaste da operação aos testículos em 1940?' ao que o marido responde com um 'Siiiiiiiiim mulher...' enquanto rola declaradamente os olhos. Não satisfeita, a mulher dirige-se a mim para aplicar a mesma técnica de tortura por perguntas até à exaustão!
Hoje, a um desses desgraçados, pedi que fosse urinar para um copo para que pudéssemos analisar a urina. O olhar dele quando a mulher, alto e bom som em plena sala de espera repleta de pessoas lhe perguntou 'Precisas de ajuda?' foi impagável! Juro que, por um momento, aquele homem teve um impulso homicida!
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