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sábado, 15 de dezembro de 2012

O que todos os enfermeiros trazem no bolso....

O que todos os enfermeiros trazem no bolso....: A farda de um Enfermeiro tem por hábito incorporar pelo menos um a dois bolsos, que permitem guardar um sem-número de objetos.

Desde a indispensável tesoura, ao adesivo, folha da passagem de turno, canetas, ou ainda um sem número de material hospitalar, os bolsos das fardas/batas, com o devido respeito pelos princípios de higiene, permitem o armazenamento de ferramentas fundamentais à prestação de cuidados.

Venho aqui hoje partilhar outro objeto que TODOS os enfermeiros, sem exceção, guardam no seu bolso, sendo que a maioria nem se lembra que ele lá está. No entanto, sem se aperceberem, dão-lhe imenso uso, mais que à própria tesoura ou adesivo. Sempre aconchegado, maior ou menor, é ele que determina a imagem da profissão.



Falo-vos, naturalmente, do boneco de VOODOO. Sim, é isso mesmo. Aqueles bonequinhos de pano/tecido, com os olhos e a boca simples, algum cabelo, que representam sempre alguém que conhecemos. O mecanismo é simples, basta disferir um golpe no boneco, que a pessoa "ligada" ao mesmo irá sofrer aquela dor, não só em intensidade como na forma do golpe aplicado.

(Nesta altura, o leitor questiona-se sobre a sanidade mental do autor)

Sim, um boneco de Voodoo. Todos os enfermeiros? Sim, todos o trazem.

Isto porque, numa base diária, os enfermeiros têm comportamentos e atitudes semelhantes a alfinetes compridos e torcidos, que são espetados de forma insuspeita no boneco que é a PROFISSÃO DE ENFERMAGEM.



Porque todos os dias os enfermeiros exercem violência horizontal sobre os seus pares, ameaçam, ignoram, chantageiam, fazem bullying, mobbing e humilham o colega (de preferência evidênciando o erro, de forma a dizer que "EU" é que sabia e tinha razão).

Os enfermeiros matam-se a trabalhar em diversos locais de trabalho para depois ter, em cada um deles, uma prestação razoável e às vezes medíocre.

Os profissionais olham para as suas atribuições com desdém, no que diz respeito à alimentação e higiene dos utentes, no apoio emocional e outras que tais, e permitem que outros profissionais o façam numa base diária, sem qualquer controlo ou supervisão.

Os enfermeiros são os primeiros a descredibilizar os colegas, a gozar quando recebem formação destes, a menosprezar o seu trabalho com as expressões "isto é muito simples" ou "não precisa de agradecer, não foi nada" frente aos utentes e outros profissionais de saúde.

Os enfermeiros são dos poucos a tratar-se, no local de trabalho, como se estivessem no café da esquina. Calam-se quando têm razão e preferem evitar defender os doentes, face à possibilidade da ameaça (muitas vezes virtual) do desemprego.

Os enfermeiros pedem reconhecimento, mas esquecem a assunção da responsabilidade.

Os enfermeiros alheiam-se da vida social e política da profissão, não participando na sociedade, não discutindo a profissão e não a defendendo no espaço público. São aliás os primeiros a dizer que a Ordem não faz nada, os Sindicatos não fazem nada, mas eles não se vêem a fazer nada.

Ninguém é perfeito, eu muito menos. A crítica é dura, mas todos os dias, alguns enfermeiros espetam milhares de agulhas no BONECO. 

E O BONECO ESTÁ A COMEÇAR A RASGAR-SE. 



Todos o levamos no nosso bolso, no dia-a-dia, e somos responsáveis por olhar por ele. Não olhar da maneira distorcida de quem tem o prazer de espetar novamente, mas quem o preserva e defende de todos os perigos.

Saibamos por isso lembrar-nos que trazemos a profissão connosco, no bolso, na atitude, na apresentação, na conduta. Saibamos também guardar o alfinete, praticando tratamentos positivos de colegas, praticando o respeito e o elogio mútuo.

Cumprimentos a todos.

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