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sábado, 7 de abril de 2012

O roubo (em suaves prestações)

O roubo (em suaves prestações):
Ser enfermeiro, mais do que uma profissão ou ocupação, é uma entrega única. O esforço físico, cognitivo e emocional é levado ao máximo em cada momento. Ser enfermeiro é estar presente em todas as fases de vida, seja de nascimento, de morte, de saúde, de doença, de alegria, de tristeza.
Ser enfermeiro já tem inerente, e infelizmente assim o é, ser uma profissão remunerada injustamente e com vínculos que primam por uma crescente precariedade.
Nos hospitais de Portugal, salvo os profissionais mais antigos, apenas os enfermeiros deixaram de pertencer aos quadros da Função Pública, fustigados pelos cortes e retenções e nunca beneficiados pelas regalias de qualquer funcionário público.
As EPE's e algumas das parcerias publico-privadas trouxeram os vínculos para um rating oscilante entre o "miserável" e o "vergonhoso".
No entanto, nunca o roubo adquiriu proporção mais flagrante do que aquela que agora toma. O Hospital S.Francisco Xavier, integrante do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental vem exigir aos enfermeiros contratados a restituição de horas pagas em valor indevido desde 2008. Um erro informático frisam eles, um roubo descarado frisam os enfermeiros.
Os montantes chegam a ascender ao milhar de euros, que a instituição informa cobrar em suaves prestações. Não há explicação para além do erro informático (imagine-se a competência necessária para que a detecção de um erro se faça após 4 anos), não há possibilidade de argumentação, não há uma plataforma de entendimento. Há uma cobrança coerciva de dinheiro a quem cuida dos utentes!
O Silêncio impera na defesa dos enfermeiros. Uns aceitam, resignados, outros reclamam, mas resignam-se na mesma. Pequenas nichos se formam procurando arquitectar uma defesa, vozes discordantes aqui e ali, atemorizados sempre pelo fantasma do despedimento fácil. 
A Ordem, com conhecimento, ainda não se ouviu, o Sindicato age de igual forma, com a agravante de que só se disponibiliza para defender os sindicalizados (no seu abrangente horário de atendimento de 1 dia por semana). Ninguém fala, perante um roubo aqueles que constituem cerca de 60 a 70% da força de trabalho de todos os Hospitais. 
Ser enfermeiro é um privilégio, mas quem cuida não o pode fazer apenas por bondade, é igualmente uma profissão. Caridade fazem os enfermeiros, com a responsabilidade que têm, a ganhar o que ganham.
Uma luz ténue se acende. O Bloco de Esquerda vai colocar ao ministro da Saúde (o tal a quem o Bastonário não teve coragem de criticar) um pedido de esclarecimento sobre esta situação. Afinal a injustiça é por demais evidente aos olhos de todos, tal como é o valor inigualável da enfermagem.
Que se ergam as vozes, sem medo. Hj é a devolução de horas mal pagas, amanhã é (mais) um corte nos salários, mais horas semanais, menor rácio de enfermeiros. Hoje é o dia de falar, pois amanhã até a voz nos roubam

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