O artigo do Martin Wolf, a que fiz referência mais abaixo, obteve bastante atenção. No entanto, vale a pena ir um pouco mais a montante deste artigo e ler esta análise (focada na Irlanda) sobre o eurosistema de dívidas. Há uma comparação que importa fazer: os resgates dos Estados e os regastes dos bancos.
O primeiro aspecto é a dimensão do financiamento do BCE, através dos seus balcões nacionais, à banca privada. Os montantes, a uma taxa de juro de 1%, ultrapassam, e muito, qualquer valor já recebido pelos Estados periféricos no âmbito dos resgates do FEEF/FMI. No caso de Portugal, o Banco de Portugal é já credor de 59 mil milhões de euros da banca privada. Esta dívida não é obviamente toda nova, mas no todo europeu a exposição dos bancos centrais à banca privada aumentou sete vezes desde 2004. A grande razão deste financiamento é bem conhecida: os bancos dos países periféricos, com enormes necessidades de refinanciamento nos mercados externos (lembre-se que em Portugal a dívida privada é muito superior à pública), deixaram de ter acesso a financiamento externo. Um bloqueio semelhante ao que ocorreu ao Estado Português, mas que aconteceu há um ano atrás. Ou seja, o pouco discutido resgate do capital financeiro é feito em condições muito mais favoráveis e com um valor superior ao dos Estados. A contrapartida exigida à banca é um aumento do capital próprio (assegurada, em último caso, pelos contribuintes) e uma redução dos seus balanços (vendendo activos e amortizando dívidas). A sua propriedade, gestão e rentabilidade não são praticamente tocadas. Tudo é feito para que os bancos atravessem a crise com o mínimo de custos.
Agora compare-se este resgate com o plano da Troika para as periferias. Os sacrifícios impostos às populações conduzirão, além do desastre social que são os cortes nos salários, pensões e serviços públicos, a uma recessão profunda que torna o país insolvente (falido) a curto prazo. Tudo devido ao empréstimo feito a juros demasiado altos, com condições imorais como são os 12 mil milhões de euros reservados à capitalização da banca (uma capitalização asseguradora da não intervenção pública directa, claro está). O país perde a soberania, a democracia e implode com o seu tecido económico e social. É impressão minha ou há aqui dois pesos e duas medidas, sendo que estamos perante uma enorme redistribuição de rendimento?
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