Segurança nos Cuidados na Urgência: "
A gestão do risco é algo que sempre me intrigou... Principalmente o conceito de risco aceitável.
A noção que tenho é que os estudos sobre a viabilidade económica de um sistema mais seguro versus a sustentabilidade financeira do mesmo sistema estão inquinados. Ninguém me convence de que maior segurança nos cuidados não traz menores custos finais...
Depois acho que "alguém" anda a brincar com a saúde das pessoas(utentes e profissionais)... É mais fácil tomar decisões erradas, embora politicamente aceitáveis se não estivermos confrontados com a dura realidade... Só assim se explica que o serviço de urgência seja um contínuo hospital de campanha ( a coexistência de serviços de "elite" com uma carga de trabalho quase incipiente versus outros como o SU , dentro dum mesmo sistema é algo de verdadeiramente inacreditável e incompreensível),
O SU está endemicamente subdotado de profissionais, essencialmente enfermeiros, que como se sabe são os responsáveis pela quase totalidade dos procedimentos invasivos, quer no serviço de Urgência quer nos outros serviços, assim como por outras actuações que não sendo invasivas em muito contribuem para o aumento do erro ( alimentação dos utentes, articulação entre os diferentes profissionais para a realização de MCDT's, gestão do circuito de informação entre utente, família e profissionais).
No entanto , a nível ético e moral tal parece ser descurado pelas organizações e pergunto-me quantos erros sucederão diariamente, quantas mortes, quantos euros serão gastos inutilmente em tratamento de complicações resultantes de mau atendimento em serviços de Urgência, por força da subdotação de profissionais.
Do Burn Out já nem falo...
Um exemplo de erro:
O Sr Paulo de 76 anos (nome fictício pelo que qualquer semelhança com nome real será pura coincidência) entrou há cerca de 20 minutos e apresenta sinais de isquemia aguda do MIE (membro inferior esquerdo). Está sozinho no SU visto ter sido transferido de outro Hospital para ser observado por Cirurgião vascular(Cir. Vasc.) e a família não pode acompanhá.lo. Apresenta confusão aguda relacionada com processo demencial.
Após 10 minutos chega o Cir, Vasc. que após observar o utente prescreve 5000 U de heparina via
endovenosa(EV). De imediato o enfermeiro A administra a medicação prescrita. Dez minutos após o utente
entra em estado letárgico apresentando.se suado, diaforético e bradipneico. É transferido de imediato para a
Sala de Emergência na eventualidade de possível AVC(acidente vascular cerebral) hemorrágico.
Na sala de emergência além dos sinais vitais, é avaliada a glicemia capilar, visto ser um procedimento de
rotina na admissão nessa área de cuidados: O utente apresenta glicemia de 12 mg/dL. Instantaneamente o
enfermeiro e o médico agilizam o atendimento. Faz repetidamente glicose hipertónica mas mantém
hipoglicemia constante. Fez TC CE que não revela alterações agudas. Faz glucagon Ev e fica com perfusão
contínua de glicose a 30%. Após várias horas recupera estado de consciência anterior e estabilidade
hemodinâmica.
Entretanto na área Laranja, junto do utente está uma ampola de Insulina de Acção Rápida. Conclui-se que foi administrada insulina ao invés de Heparina.
O mais provável seria dizer que o enfermeiro leu mal o rótulo da embalagem... mas porque aconteceu isso? Que factores contribuíram para que tal acontecesse?
Deve ser feita uma abordagem individual ou sistémica.
Se a maior causa de erro se deve ao cansaço dos profissionais de que forma pode ser isso resolvido?
Não merecem os profissionais mais respeito mas acima de tudo... Não merecem os doentes mais segurança?"
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