Sob o título Os Processos que Pariram um Rato, o Expresso recordou, num artigo assinado por Rui Gustavo e publicado em Fevereiro de 2009, alguns dos casos que, apesar do elevado impacto público, morreram nos tribunais. Segue parte da lista seleccionada pelo jornalista, com as respectivas actualizações.
FP - 25 de Abril - Quando Otelo Saraiva de Carvalho foi preso liderava as FP-25, grupo terrorista responsável pela morte de 18 pessoas entre 1980 e 1987. Otelo foi condenado a 15 anos de prisão e cumpriu cinco. Beneficiou de um indulto de Mário Soares, extensível a mais seis condenados. A sentença foi anulada em 2001, 16 anos depois do início do julgamento. Nos processos de casos de 'sangue', o único condenado foi o arrependido Guedes Monteiro.
Fax de Macau - Carlos Melancia era governador de Macau e foi acusado de receber 50 mil contos da Weidelplan, empresa concorrente à construção do aeroporto. O caso fez várias manchetes e Melancia foi obrigado a demitir-se. Em 1993 foi absolvido contra a vontade do juiz presidente do julgamento, Ricardo Cardoso, que fez questão de o divulgar publicamente.
UGT - Foram precisos 15 anos para absolver os 35 acusados do desvio de 1,8 milhões de euros do Fundo Social Europeu. O tribunal analisou novecentos factos e encontrou irregularidades em quatro casos. Só descobriu provas para condenar José Veludo, tesoureiro da UGT, mas considerou que os crimes estariam prescritos. Torres Couto desapareceu da cena política.
Hemofílicos - Em 1982, 136 hemofílicos foram infectados com o vírus da sida depois de lhes ter sido administrado sangue contaminado em hospitais públicos. Desses, 56 morreram. Dez anos depois, a ministra da Saúde na época em que ocorrreram os factos, Leonor Beleza, foi acusada de conscientemente ter importado e propagado o sangue contaminado. Mais dez pessoas foram acusadas no processo. A ministra alegou sempre inocência e o caso prescreveu ao fim de 18 anos sem nunca ter chegado a julgamento.
Ministério da Saúde - Costa Freire, secretário de Estado da Saúde e Zezé Beleza, irmão da ministra, foram acusados de corrupção no fornecimento de material informático e de uma campanha de publicidade no Ministério da Saúde. Os dois foram condenados a penas de prisão efectiva, mas de recurso em recurso, o caso prescreveu ao fim de 17 anos.
Universidade Moderna - Suspeitou-se de tráfico de armas, diamantes e mulheres. A universidade começou a ser investigada em 1995 e cinco anos depois o reitor Júlio Gonçalves e os filhos José Braga Gonçalves e João Braga Gonçalves foram detidos pela PJ sob suspeita de desvio de verbas. Paulo Portas, gerente da empresa Amostra, que aparece associada ao caso, escapou ileso. O julgamento começou em 2002 e José Braga Gonçalves, gestor da universidade e principal arguido no processo, apanhou a pena mais alta: 12 anos. Cumpriu cinco e já foi libertado.
Casa Pia - A bomba rebentou no final de 2002, com a detenção de Carlos Silvino, um funcionário da Casa Pia que confessou o abuso de centenas de crianças. O ex-ministro Paulo Pedroso foi preso, solto e ilibado. Herman José foi acusado, mas conseguiu provar a sua inocência. Foram constituídos sete arguidos, entre os quais o apresentador Carlos Cruz, que começaram a ser julgados em 2004. Como se sabe, este processo ainda aguarda desfecho.
Apito Dourado - As primeiras vítimas do caso foram Teófilo Santiago e João Massano, responsáveis da PJ afastados pelo então director, Adelino Salvado, por não o terem avisado da operação que levou à detenção de Valentim Loureiro e Pinto de Sousa. Pinto da Costa escapou porque estava em Espanha. O processo levou sete anos a chegar a tribunal. Valentim Loureiro foi condenado pelo Tribunal da Relação do Porto a dois anos e seis meses de prisão com pena suspensa e 30 mil euros de multa, mas vai recorrer. Pinto de Sousa foi absolvido e Pinto da Costa saiu ilibado, mas no plano desportivo foi suspenso por dois anos das suas funções de presidente da SAD do FCP pela Comissão disciplinar da Liga, decisão que foi confirmada pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol.
Portucale - Já depois de perder as eleições legislativas de 2005, o governo PSD/PP assinava um despacho a autorizar o abate de 2600 sobreiros para a construção de um projecto turístico do Grupo Espírito Santo. Três ministros foram envolvidos no processo: Telmo Correia, Nobre Guedes e Costa Neves. Nenhum foi acusado. Abel Pinheiro, ex-director financeiro do CDS-PP, é um dos 11 acusados de crimes como abuso de poder e tráfico de influências. Um milhão de euros foi doado pelo militante fictício Jacinto Leite Capelo Rego.
Furacão - Mais de 506 arguidos, buscas no BES, BCP, BPN e Finibanco, milhões de documentos apreendidos em escritórios de advogados e empresas, numa operação destinada a identificar e deter a colocação de verbas no estrangeiro por intermédio de instituições financeiras e bancos através de facturação falsa. A investigação descobriu um rombo ao fisco de mais de 280 milhões de euros e, em cinco anos, conseguiu recuperar 81 milhões. Não há acusados nem fim à vista no maior processo de crime financeiro em Portugal.
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