ARTRITE REUMATÓIDE - Texto para leigos: "
A artrite reumatóide (AR) é uma doença inflamatória crônica que pode acometer vários órgãos e tecidos do corpo, mas apresenta uma clara preferência pelas articulações.Damos o nome de artrite à inflamação de uma ou mais articulações (leia: O QUE É INFLAMAÇÃO?). Uma articulação com artrite se apresenta inchada, avermelhada, quente e extremamente dolorida.
Quando apenas uma articulação está inflamada, chamamos de monoartrite. Quando ocorre inflamação de várias articulações estamos diante de uma poliartrite. A artrite pode ainda ser simétrica quando acomete simultaneamente duas articulações irmãs como joelhos, punhos, tornozelos, etc...
Características da artrite reumatóide |
Várias outras doenças acometem as articulações, manifestando-se com quadros de artrite, fazendo parte do diagnóstico diferencial da artrite reumatóide, entre elas podemos citar:
- Lúpus (leia: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO)
- Gota (leia: SINTOMAS DA GOTA E ÁCIDO ÚRICO)
- Osteoartrite (artrose)
- Artrite séptica
- Artrite psoriática
- Doença de Still
- Espondilite anquilosante
- Febre reumática
Uma característica típica da inflamação articular da artrite reumatóide é o acometimento da sinóvia, tecido cheio de líquido que localiza-se no centro das articulações, servindo para diminuir o atrito entre os ossos, como uma espécie de óleo lubrificante.
Não se sabe ainda o que causa a artrite reumatóide, mas fatores auto-imunes estão presentes. (leia: DOENÇA AUTO-IMUNE). Por que o organismo passa a atacar as próprias articulações ainda é um mistério, mas o resultado final é a destruição de tecidos pelo próprio sistema imune. Fatores genéticos parecem ser importantes e a presença de determinados genes está associada a um maior risco de se desenvolver a doença. Parentes de 1º grau de doentes, apresentam até 3x mais chances de também apresentar AR.
A artrite reumatóide é mais comum em mulheres e em caucasianos (brancos). O pico de aparecimento da doença é entre 30 e 55 anos. Até 5% das mulheres acima de 65 anos apresentam AR. O ato de fumar está associado a um maior risco de AR e a uma maior gravidade da doença (leia: COMO E POR QUE PARAR DE FUMAR CIGARRO). A nuliparidade (ausência de filhos) também parece ser outro fator de risco.
Sintomas da artrite reumatóide
O quadro de artrite reumatóide costuma iniciar-se de forma insidiosa, com sintomas leves e pouco específicos como cansaço, dor muscular, perda de peso, febre baixa, formigamento nas mãos, e, por vezes, pequenas dores articulares. É muito comum haver um intervalo de meses entre o início dos sintomas e a procura por atendimento médico.
Quando o quadro de artrite se inicia ele é caracteristicamente uma poliartrite simétrica. As articulações das mãos são, em geral, as primeiras a serem acometidas. As principais são as metacarpofalangeanas e as interfalangeanas proximais (ver figura abaixo).
Conforme a doença progride, mais articulações são acometidas. Punhos, ombros, joelhos, pés, tornozelos, coluna, articulação da mandíbula, quadril e outras podem ser atacadas pelo sistema imune. O sintomas podem ser cíclicos, alternando-se períodos de melhora com momento de grande piora, ou contínuos. Se não houver tratamento, deformidades podem surgir ao longo do tempo.
Uma lesão típica da AR deformante é desvio lateral dos dedos associado a uma deformidade chamada de pescoço de cisne.
Deformidades da artrite reumatóide |
Artrite ativa e deforminades na artrite reumatóide |
O acometimento das articulações é típico, mas a artrite reumatóide é uma doença sistêmica que pode também se apresentar com inflamação do pericárdio - membrana que envolve o coração (pericardite) -, inflamação do pulmão e da pleura, inflamações dos olhos, lesões nos nervos periféricos, aumento do baço, sinais de vasculite (leia: SAIBA O QUE É VASCULITE) e formação de nódulos subcutâneos, principalmente na região do antebraço e cotovelo (ver foto abaixo).
Pacientes com artrite reumatóide apresentam maior risco para infarto do miocárdio (leia: SINTOMAS DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E ANGINA).
Nódulos subcutâneos na AR |
Diagnóstico da artrite reumatóide
O Colégio Americano de Reumatologia estabeleceu critérios para AR. Para se fechar o diagnóstico o paciente precisa ter pelo menos 4 dos 7 critérios abaixo.
1- Rigidez matinal: rigidez das articulações ao acordar com duração de pelo menos 1 hora.
2- Artrite em pelo menos 3 articulações simultaneamente.
3- Artrite de mãos e punhos
4- Artrite simétrica
5- Nódulos subcutâneos
6- Fator reumatóide (FR) positivo em análise de sangue.
7- Alterações típicas de AR nas radiografias de mãos e punhos
Os critérios de 1 a 4 devem estar presentes por pelo menos 6 semanas. Esses critérios só servem para pacientes com doença plenamente estabelecida. Como já foi dito, no início do quadro, esses achados podem não estar presentes.
A artrocentese é a coleta de líquido sinovial através da punção com agulha de uma articulação inflamada. Este exame serve para se avaliar a composição do líquido sinovial e descartar outras causas de artrite. A artrocentese também pode ser usada para se injetar medicamentos para alívio da artrite.
Pesquisa de auto-anticorpos no sangue
Até 80% dos pacientes com artrite reumatóide apresentam pesquisa positiva do Fator Reumatóide (um auto-anticorpo). Esse anticorpo sozinho, porém, não é suficiente para se estabelecer o diagnóstico. Outras doenças como lúpus, Sjögren e crioglobulinemia também podem apresentar fator reumatóide positivo. Além disso, até 10% da população saudável pode ter FR positivo sem que isso indique qualquer doença.
Um novo anticorpo foi descoberto há pouco tempo. Trata-se do anti-CCP. Este anticorpo é mais específico para a artrite reumatóide que o Fator Reumatóide, sendo que até 95% dos pacientes com resultado positivo têm AR.
Quando os auto-anticorpos estão presentes, há um maior risco de doença mais grave e deformante.
O FAN pode estar positivo em até 40% dos casos. Este é um anticorpo que ajuda pouco no diagnóstico da artrite reumatóide já que costuma estar positivo em várias outras doenças que cursam com artrite e, portanto, fazem parte do diagnóstico diferencial. Porém, ele serve para se sugerir a presença de uma doença auto-imune como causa dos sintomas. (leia: O QUE É O FAN (FATOR ANTINUCLEAR)?).
Tratamento da artrite reumatóide
Não existe cura para artrite reumatóide. O tratamento é voltado para redução dos processos inflamatórios e prevenção das deformidades.
O tratamento não medicamentoso inclui exercícios físicos controlados, fisioterapia e orientação nutricional para se evitar sobrepeso e controlar o colesterol. Não existe dieta específica para a AR.
A terapia com drogas é o principal tratamento da artrite reumatóide. Existem 4 classes diferentes de medicamentos que podem ser usados de acordo com a gravidade do caso.
1- Antiinflamatórios não esteroidais (AINES)
São drogas que agem aliviando os sintomas da artrite. Os mais usados são o Ibuprofeno e o Naproxeno.
Demoram de 2 a 4 semanas para se alcançar o efeito máximo. Apresentam muitos efeitos colaterais quando usado a longo prazo (leia: AÇÃO E EFEITOS COLATERAIS DOS ANTIINFLAMATÓRIOS) e não impedem que ocorra lesões deformantes nas articulações.
2- Drogas anti-reumáticas modificadoras de doença (DMARDs)
Este é o grupo de drogas capaz não só de diminuir o processo inflamatório das artrites, mas também de impedir a progressão para doença deformante.
As principais drogas deste grupo são a hidroxicloroquina, metotrexate, sais de ouro, penicilamina, sulfassalazina, azatioprina, leflunomide e ciclosporina.
Muitos desses medicamentos são drogas imunossupressoras e devem ser usadas sob estrito controle médico. Os efeitos dos DMARDs só são sentidos após semanas/meses de tratamento.
3- Modificadores da resposta biológica
São o grupo mais novo de drogas para a artrite reumatóide. São medicamentos que agem diretamente nos mediadores inflamatórios e nas células envolvidas na artrite. Também têm efeito imunossupressor. Sua ação é mais rápida que dos DMARDs, aparecendo já em 2 semanas. Porém, são drogas caríssimas cujo custo anual beira os 15.000 dólares. Por isso, são reservadas para os casos mais graves, não responsivos a terapia convencional. São todos drogas por via injetável o que dificulta ainda mais o uso domiciliar.
As principais drogas desta categoria são: etanercept, infliximab, adalimumab, anakinra, abatacept e rituximab
4- Corticóides
Drogas como a prednisona agem rapidamente reduzindo o processo inflamatório e aliviando os sintomas da artrite reumatóide. Podem ser tomadas por via oral ou injetadas diretamente nas articulações acometidas. Sua capacidade de prevenir deformidades é restrita e seus efeitos colaterais são inúmeros (leia: INDICAÇÕES E EFEITOS DA PREDNISONA E CORTICÓIDES).
O seu uso é indicado no inicio do tratamento, normalmente junto com os AINES, para um rápido alívio dos sintomas enquanto se espera o efeito completo dos DMARDs.
Medicina alternativa para artrite reumatóide
Até o momento nenhum dos tratamentos ditos alternativos conseguiu se mostrar superior ao efeito placebo.
Medicamentos do tipo colágeno ou cartilagem de tubarão não apresentam nenhuma evidência científica de que funcionem.
Todos os trabalhos com homeopatia e acupuntura não conseguiram evidenciar qualquer benefício com o uso destas modalidades terapêuticas.
Pulseiras magnéticas também não servem para nada.
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Leia também:
- FIBROMIALGIA - Sintomas e tratamento
- COLESTEROL BOM (HDL) E COLESTEROL RUIM (LDL)
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